Entrevistas:  Cama de Jornal

Por Plebe

1) Como nasceu a Cama de Jornal?
Lazaro: A Cama de Jornal nasceu em meados de 2001, onde passamos a nos reunir nos finais de semana com o intuito de passar toda nossa revolta pra fora através da musica... Não tínhamos muito domínio dos instrumentos e a condição financeira era escassa, mas com muito esforço adquirimos alguns instrumentos, uma bateria artesanal, uma antiga radióla, um amplificador fulêro e começamos a fazer covers de algumas bandas punx. Inicialmente não tínhamos a intensão de fazer shows... Daí começou a surgir as primeiras letras, as primeiras músicas, e sentindo a necessidade de expandir nossas idéias passamos a nos apresentar em shows aqui em Vitória da Conquista, e tudo foi rolando naturalmente. Hoje as coisas não mudaram muito, pois ainda não aprendemos tocar e todo mundo continua fudido, mas continuamos aí resistindo e fazendo o que mais gostamos e acreditamos.
2) Quem teve a idéia de formar a banda?
Lazaro: A idéia da banda surgiu quando eu e Nem nos conhecemos num festival de rock em Poções/BA e ambos já tinham em mente a idéia de montar uma banda, conversando, as idéias se bateram ai foi só amadurecer. Aí convidei meus amigos Rose para tocar baixo e Rodinei para tocar bateria, e essa foi a formação inicial da Cama de Jornal. Rodinei saiu antes mesmo de tocarmos pela primeira vez, e vários outros bateristas passaram pela banda até Helder, ex-Atestado de Pobreza (lendária banda punk de conquista) assumir a bateria no inicio de 2003, e foi com essa formação que gravamos nossas 3 demos e estamos até hoje: Nem no vocal, Lázaro na guitarra, Rose no baixo, Helder na batera.
NEM: Antes mesmo de conhecer os caras, eu já tinha vontade de ter uma banda. O problema é que não sabia tocar e muito menos cantar nada. Diziámos um para o outro que sabíamos tocar e me lembro de nosso primeiro ensaio, não saiu nada, foi horrível. Por isso que não canso de dizer pra galera que tá começando a tocar agora. Não deixe de fazer o que você gosta só porque alguém lhe critica ou acha horrível. O importante em primeiro lugar é você gostar e se sentir bem naquilo que faz.
3) Quem faz as músicas?
Lazaro: Na maioria das letras são escritas por Nem, ele passa essa letra para mim ou para o Rose e colocamos os arranjos, depois gravamos numa fita k7 e passamos para Helder colocar os arranjos de bateria. Mas eu e Rose também já escrevemos algumas letras.
NEM: Mas não tem uma regra, saca??? Antes de qualquer coisa a parada tem que fluir naturalmente entre a banda, sem pressões. Se for pra fazer um CD inteiro com músicas de Lázaro, a gente vai fazer... sem problemas. Mas a verdade é que acho que os caras são meio preguiçosos pra escrever. E eu o contrário, escrevo sobre qualquer coisa que acontece no meu dia-a-dia... Chego a ser chato de tanto ficar escrevendo...
4) A banda vai lançar ou já lançou algum CD?
Lazaro: Acabamos de gravar nossa 3º demo intitulada “NADA A PERDER” , só estamos finalizando a parte gráfica. Essa demo segue a mesma linha dos trampos anteriores, fazendo um punk rock Old School tosco e direto com uma pitada de hardcore e letras de cunho social.
NEM: É isso mesmo. Mas finalmente conseguimos alcançar o resultado final que sempre buscamos: Fazer um Cd punk, sujo, direto, reto, mas bem gravado, saca??? Se a banda acabar hoje, já me sinto realizado por tudo que fiz. Já tenho muita história pra contar pro meu filho.
5) Quais as influências da Cama de Jornal?
Lazaro: Nossas principais influências são bandas Punk/hc oitentistas como Cólera, Inocentes, RDP, Olho Seco, Dead Kennedys, dentre várias outras. E ideologicamente utilizamos a música como uma forma de conscientização, protesto e contestação contra esse sistema podre o qual estamos todos atolados.
NEM: Eu, particularmente, curto muita coisa, na verdade a banda toda curte várias coisas diferentes, e isso é bom, porque cada um trás as suas influências e tudo se transforma na Cama de Jornal, saca??? Não imitamos ninguém, mas também não renegamos nossas influências de bandas punx dos anos 80, fazemos tudo com a cara da Cama de Jornal, de forma clara e verdadeira.
6) Como são os shows da Cama de Jornal e como é a aceitação do público?
Lazaro: Geralmente nossas apresentações são toscas e bem fora dos padrões, sempre nos preocupamos em fazermos nosso protesto, às vezes de forma irônica, às vezes Nem se exalta e solta alguns palavrões, às vezes algum componente chapado erra tudo... Pra quem conhece a banda isso já é normal, mas quem não conhece...
NEM: Quem não conhece acha horrível, ou então engraçado, fico pirado com isso... Qual o parâmetro que você usa pra achar algo horrível??? Cada um tem o seu critério, e isso tem que ser levado em conta. Uma banda que você acha horrível, eu posso gostar pra caralho, saca??? Outra coisa é me achar engraçado, fico puto com isso. Tenho uma banda punk no interior da Bahia que faz um som de protesto, e vem uns idiotas me dizer que me acha engraçado? Engraçado é o palhaço no circo, não sou palhaço... Tenho um traço de irônia muito forte e irônia é muito diferente de palhaçada, saca??? E nosso show é irônico do inicio ao fim... E tem uma galera que curte por isso, pelo descompromisso com o padrão comercial.
7) Como se caracteriza a cena Punk de Vitória da Conquista?
Lazaro: Véi, a cena punk aqui é bem pequena, rolam poucos punx e a maioria do pessoal se liga no Punk/Hc apenas como estilo musical, mas esses poucos que existem movimentam a cena, aqui tem varias bandas legais, rolam dois fanzines voltados a contracultura Punk/Hc, dois selos de distribuição de material independente, é de costume rolar gigs. Ano passado foi gravado uma coletânea ao vivo com 7 bandas daqui da cidade, chegamos a criar um coletivo onde realizamos varias ações legais, mas que por motivos diversos o pessoal acabou se dispersando. Às vezes divergências existem mas é de costume estarmos unidos contra um inimigo em comum.
NEM: Como o Lazaro falou, tem muita banda legal, tem gigs, tem um público Punk/Hc, mas um movimento mesmo, com ações, praticamente não existe. Mas temos nos esforçado pra que isso venha a mudar, sempre realizamos shows com bandas punks, lançamos pelo meu selo Tosco Todo, uma coletânea só com bandas punks locais e recentemente o Lazaro lançou uma só com bandas punks baianas, através do zine “A Célula”... E o caminho é esse, conscientizar através da mídia underground, se ninguém faz nada por você, faça você mesmo, corra atrás, essa é a velha lei.
8) Já fizeram ou pretendem fazer shows em Salvador?
Lazaro: Então, tocamos em Salvador no palco da ACCR no carnaval de 2006. Pô e pra nós foi um prazer, pois já tínhamos alguns contatos aí e sabíamos do reconhecimento do nosso trabalho, e esta foi uma ótima oportunidade pra estarmos fazendo nosso protesto aí na capital com os piores índices sociais do país, e foi bem interessante também pois pudemos trocar idéias com vários punks, ampliar nossos contatos, tomar muita cachaça e nos divertir. Depois disso rolaram várias propostas pra tocarmos aí, mas devido a falta de grana ficamos impedidos de ir. Mas ainda pretendemos voltar aí em breve.
NEM: Temos muita vontade de tocar no Espaço Insurgente. Espero que um dia alguém nos convide.
9) Considerações finais e agradecimentos
Lazaro: Valeu ae ao BOCA SUJA pelo espaço e parabenizamos pela iniciativa do zine, valeu também aí a galera de Salvador.
NEM: Valeu véio, sempre falo demais, mas espero que as pessoas possam ter conhecido um pouco mais sobre a Cama de Jornal e sobre o que rola por aqui...




Voltar